Enxaqueca: como tratar e prevenir as crises com segurança – entenda as opções, inclusive as “injeções para enxaqueca”

Você conhece as diversas opções de tratamento para enxaqueca?

Dr. Henrique Bernal

7/25/20254 min read

A enxaqueca é uma condição neurológica que vai muito além de uma simples dor de cabeça. Ela afeta milhões de pessoas e pode trazer prejuízos significativos para a qualidade de vida, impactando o trabalho, o convívio social e até o bem-estar emocional. Felizmente, a medicina tem avançado e hoje contamos com várias opções de tratamento – tanto para aliviar as crises quanto para prevenir que elas ocorram com tanta frequência.

Neste artigo, explicamos de forma clara e didática quais são os tipos de tratamento disponíveis para enxaqueca, quando eles são indicados, os possíveis efeitos colaterais e o que há de mais moderno no cuidado com essa condição: os anticorpos monoclonais anti-CGRP, popularmente conhecidos como “injeções para enxaqueca”.

Atenção: este conteúdo é apenas informativo. Qualquer medicação só deve ser usada com prescrição médica.

O que é enxaqueca?

Enxaqueca é uma dor de cabeça geralmente latejante, que costuma acometer um dos lados da cabeça, mas pode ser bilateral. É comum vir acompanhada de náuseas, vômitos, sensibilidade à luz (fotofobia), ao som (fonofobia) e, em alguns casos, alterações visuais conhecidas como aura.

O diagnóstico é clínico, ou seja, baseado nos sintomas. O neurologista analisa a frequência, a intensidade, os gatilhos e os sinais associados para diferenciar a enxaqueca de outros tipos de cefaleia.

Tratamento das crises (tratamento abortivo)

Esse tipo de tratamento tem como objetivo aliviar a dor no momento da crise, reduzindo o tempo de duração e os sintomas associados.

As principais opções incluem:

1. Analgésicos simples

São indicados para crises leves:

  • Paracetamol

  • Dipirona

2. Anti-inflamatórios não hormonais (AINEs)

Recomendados para crises de moderada intensidade:

  • Ibuprofeno

  • Naproxeno

  • Diclofenaco
    Esses medicamentos atuam diminuindo a inflamação dos vasos cerebrais, que está por trás da dor da enxaqueca.

3. Triptanos

Classe de medicamentos específica para enxaqueca, indicada para crises mais intensas ou quando os remédios comuns não funcionam:

  • Sumatriptana

  • Zolmitriptana

  • Naratriptana

  • Rizatriptana

  • Eletriptano (opção mais moderna e recente, com estudos sugerindo superioridade aos demais)

Eles agem nos receptores de serotonina, contraindo os vasos dilatados no cérebro e interrompendo a cascata da crise.

⚠️ Contraindicação: pessoas com doenças cardiovasculares, pois podem causar vasoconstrição.

4. Antieméticos

Frequentemente associados ao tratamento das crises para combater náuseas e vômitos:

  • Metoclopramida (pode ser usada mesmo sem náuseas para combater a enxaqueca agudamente)

  • Domperidona

  • Ondansetrona

5. Outras opções mais recentes

  • Gepants: como o ubrogepant e o rimegepant, são medicamentos orais que bloqueiam o CGRP (peptídeo relacionado ao gene da calcitonina), uma substância inflamatória envolvida na enxaqueca. São promissores, especialmente para quem não pode usar triptanos.

  • Ditans: como a lasmiditana, outra alternativa para pacientes com contraindicação aos triptanos. Atua em outro receptor de serotonina, com menor risco cardiovascular.

Tratamento preventivo (profilático)

Quando o paciente apresenta crises frequentes (geralmente 4 ou mais dias de dor por mês) ou quando a dor é muito incapacitante, o neurologista pode indicar um tratamento preventivo. O objetivo é reduzir a frequência, a intensidade e a duração das crises.

Essa abordagem exige disciplina, pois o efeito pode demorar de 4 a 8 semanas para começar a aparecer, e o acompanhamento regular é fundamental.

Medicamentos preventivos tradicionais

1. Betabloqueadores

  • Propranolol

  • Metoprolol
    Muito úteis para pacientes que também têm ansiedade ou pressão alta. Devem ser evitados em pessoas com asma ou bradicardia.

2. Anticonvulsivantes

  • Topiramato: pode ajudar na perda de peso e é bom para pacientes com obesidade, mas pode causar formigamento, sonolência e alterações cognitivas leves.

  • Valproato de sódio: eficaz, mas contraindicado para mulheres em idade fértil devido ao risco de malformações congênitas e efeitos metabólicos.

3. Antidepressivos

  • Amitriptilina: ajuda especialmente quem tem insônia, dor crônica ou depressão associada. Pode causar boca seca, sonolência e aumento de peso.

  • Venlafaxina: boa escolha para quem tem enxaqueca associada a ansiedade.

4. Anti-hipertensivos

  • Candesartana: alternativa segura com boa tolerabilidade, inclusive para pacientes com hipertensão.

As "injeções para enxaqueca" – o que são os anticorpos monoclonais anti-CGRP?

Recentemente, surgiram no mercado os anticorpos monoclonais contra o CGRP ou contra seu receptor. Eles revolucionaram o tratamento da enxaqueca, principalmente para pacientes com formas mais difíceis de controlar.

Esses medicamentos atuam diretamente em uma substância chamada CGRP (peptídeo relacionado ao gene da calcitonina), que tem papel central nas crises de enxaqueca, causando dilatação dos vasos cerebrais e ativando vias inflamatórias.

Medicamentos disponíveis:

  • Erenumabe

  • Fremanezumabe

  • Galcanezumabe

  • Eptinezumabe (via endovenosa)

Todos são administrados por via subcutânea, com aplicações mensais ou trimestrais, dependendo do produto.

Anticorpos monoclonais anti‑CGRP disponíveis no Brasil:

  • Emgality® (galcanezumabe)

  • Ajovy® (fremanezumabe)

Indicações:

  • Pacientes com enxaqueca crônica ou episódica frequente;

  • Falha no tratamento com pelo menos dois medicamentos preventivos tradicionais;

  • Intolerância aos efeitos colaterais das medicações orais;

  • Casos de uso excessivo de analgésicos (cefaleia por abuso de medicação).

Vantagens:

  • Alta eficácia e tolerabilidade;

  • Conveniência posológica (1 vez por mês ou a cada 3 meses);

  • Poucos efeitos adversos relatados (cefaleia leve, reações no local da aplicação).

Esses medicamentos ainda têm custo elevado e não estão amplamente disponíveis no SUS ou nos planos de saúde, sendo necessário critério na sua indicação.

Como escolher o tratamento certo?

Cada pessoa com enxaqueca tem um perfil único: histórico familiar, doenças associadas, estilo de vida, gatilhos e preferências. Por isso, o tratamento precisa ser individualizado e acompanhado por um médico neurologista.

Um bom acompanhamento permite ajustar doses, manejar efeitos colaterais e monitorar a eficácia ao longo do tempo. Também é possível associar mais de uma abordagem: por exemplo, usar um preventivo e manter remédio para crises, ou incluir mudanças no estilo de vida e abordagens não medicamentosas (como acupuntura, biofeedback e terapia cognitivo-comportamental).

Considerações finais

A enxaqueca é uma condição complexa, mas tratável. Com o avanço da medicina, hoje temos opções eficazes para controle das crises e para prevenção. Os anticorpos monoclonais anti-CGRP representam um novo capítulo nesse cuidado, trazendo esperança para quem sofre com dores frequentes e incapacitantes.

Não se automedique. Converse com um neurologista, esclareça suas dúvidas e descubra a melhor forma de cuidar da sua saúde com segurança.

Referências científicas:

  1. Qaseem A, Tice JA, Etxeandia-Ikobaltzeta I, et al. Pharmacologic Treatments of Acute Episodic Migraine Headache. Ann Intern Med. 2025;178(4):571–578.

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